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  • Foto do escritorLeo C. Arantes

Império dos Mortos Primeiro Ato - Sem Spoilers

Atualizado: 12 de nov. de 2021



O pai dos zumbis modernos, George Romero, saiu de Hollywood seu habitat natural e se aventurou pelos caminhos da Nona Arte, criando mais uma obra pós-apocalíptica e como de costume, com uma pitada de crítica social, mais suavizada que seus clássicos dos anos 1960 é verdade, mas ainda assim perceptível aos que já conhecem o estilo do diretor norte americano.


Em Império dos Mortos Romero narra os dias de uma Nova Iorque pós apocalipse zumbi, mas com a infestação sob controle e a população vivendo, de certa forma, normalmente. Aqui os zumbis foram "domados" e são usados em espetáculos que remetem à Roma Antiga, com direito a uma réplica do Coliseu construída no coração do Central Park.

Roteiro

A trama principal acompanha o prefeito da cidade, o vampiro Drake, que usa o medo a seu favor para dominar seus adversários políticos e encobrir os cadáveres de suas vítimas: belas mulheres que são levadas às orgias organizadas pelo prefeito e seu sobrinho e se tornam alimento após uma noite de prazer. O roteiro ainda conta com duas tramas paralelas, a da doutora Penny Jones, que busca incessantemente a cura para a infecção e é mandada para acompanhar um tropa das forças especiais na esperança de poder usar os mortos-vivos para validar sua pesquisa; e de Xavier, uma ex-agente das forças especiais que é infectada e, apesar de parecer uma zumbi, ainda mantém algumas capacidades cerebrais sob controle, como o censo de certo e errado e coordenação motora. Com isso a história das duas se cruza e a dra. passa a (re)ensinar coisas simples à ex agente, que com sua inteligente ainda preservada consegue desbancar o grande campeão da arena de gladiadores zumbis. Há ainda uma terceira, que começa no último terço do quadrinhos e funciona mais como cliffhanger, dando sinais de como o Segundo Ato deve se desenvolver.

Se você estranhou a presença de vampiros na trama, não se assuste, é isso mesmo. Romero cria uma sociedade divida em três classes, que funcionam como castas, com os vampiros ocupando o topo da pirâmide, diria até o topo da cadeia alimentar, exercendo cargos do alto escalão político de Nova Iorque e sub julgando as classes inferiores; como os humanos, que na posição intermediaria são superiores apenas aos zumbis; esses, devido a um fator biológico dos desmortos de Romero, ainda desempenham certas atividades, que em vida eram praticadas, seja por hobby ou trabalho; como o zumbi da página ao lado, que mesmo tendo seu cérebro totalmente corroído pela infecção, ainda consegue varrer a rua, um reflexo do que um dia foi seu trabalho.


Com isso o aclamado diretor constrói um cenário propício para sua crítica social, expondo uma sociedade onde os poderosos escravizam os zumbis, usando-os como espetáculo nas arenas, servindo como uma ferramenta de distração das multidões, afim de manipular os "menos inteligentes" e usá-los como massa de manobra, mantendo os humanos fiéis à ordem estabelecida, além de conquistar o seu apoio. Exatamente como acontecia no Império Romano por volta do ano 100 d.C., e nada diferente do que vivemos hoje em dia.

Veredito

A bela arte aquarelada do búlgaro Alex Maleev (um dos meus quadrinistas favoritos, principalmente na longa e prolífica parceria com Brian Michael Bendis em Demolidor, Cavaleiro da Lua e Scarlet) ajuda George Romero a criar o ambiente característico das histórias de zumbi: ruas sujas e abandonadas, quase sempre escuras e com pouquíssimos detalhes; somando-se a isso o modo como Romero cria sua mitologia e adapta sua escrita dos roteiros de cinema para os quadrinhos é primoroso, nos dando a sensação de estarmos lendo mais um de seus roteiros hollywoodianos, mas apesar da qualidade do seu texto sua fluidez ainda é lenta e morosa, gastando páginas e mais páginas para avançar na trama, nos dando certa ansiedade para chegarmos ao fim da história. Aqui Romero está mais brando quanto a crítica social, presente em quase toda a sua filmografia e deveras escancarada no início de sua carreira, apenas alfinetando os tempos modernos, onde espetáculos culturais são produzidos aos montes, sem muita qualidade, mas que aprisionam a inteligência o poder crítico dos indivíduos ao ponto de aliená-los da corrupção de quem os governa.


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